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Cafés especiais de Minas derrubam fronteiras
Produtores da região de Guaxupé investem no produto diferenciado, que permite ganhos acima do valor médio em países como Japão e Reino Unido. Exportações devem crescer
Guaxupé – Um lote de 30 mil sacas de 60 quilos de cafés especiais está sendo preparado para embarque neste mês em Guaxupé, no Sul de Minas Gerais, com destino ao Japão e ao Reino Unido, entre outros mercados conquistados pelos grãos de alta qualidade produzidos na região. A venda é resultado de uma nova cultura implantada nas lavouras, que envolve desde o conhecimento técnico ao investimento no aperfeiçoamento dos tratos da terra e do beneficiamento do fruto do tipo arábica. Ingressar nesse mercado significa desfrutar de preços mais de 20% superiores à remuneração média oferecida no setor e de taxas de produtividade por hectare maiores que as 27 sacas registradas no país, além de aproveitar as possibilidades que a exigente demanda abre às fazendas.
As sacas que vão seguir por rodovia até o porto de Santos (SP) mostram, ainda, o avanço das metas de exportação dos cafés especiais, comparadas ao escoamento do primeiro lote, em julho, de 10 mil sacas, conta satisfeito o cafeicultor Osvaldo Bachiao, representante do conselho administrativo da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), maior exportador individual de café do mundo. “É um resultado excepcional do trabalho de assistência aos cooperados, para dar oportunidade a todos eles de ter acesso a esse mercado”, afirma.
O esforço de produção dos chamados cafés diferenciados motivou a Cooxupé a criar em 2009 uma empresa dedicada ao segmento, a SMC Comercial Exportadora de Café S/A, para comercializar e fornecer cafés finos, especiais e certificados. Se o universo dos lotes preparados neste ano parece modesto ante as 3,8 milhões de sacas que os cooperados deverão entregar, para os cafeicultores se trata de ganho importante. Segundo Osvaldo Bachiao, o desafio é embarcar 120 mil sacas em 2017, todas elas com classificação acima dos 82 pontos preconizados pela metodologia da Associação Americana de Cafés Especiais (SCAA, na grafia original em inglês – Specialty Coffee Association of America).
“Para vender café a R$ 420 a saca, é preciso produzir mais de 30 sacas por hectare. O desafio é que o produtor ainda não tem tanta informação sobre a diferenciação do café. Ele investe conforme a capacidade dele e só dá para investir se a família estiver vivendo bem”, afirma Osvaldo Bachiao. O cafeicultor que alcança esse grupo de fazendas de elite, certamente, otimizou processos e absorveu conhecimento, segundo o presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Nelson Carvalhaes. A instituição estima que os embarques de cafés diferenciados devem alcançar 5,2 milhões de sacas em 2017.
Os grãos especiais, de fato, despontam nesse volume, representando 80%, com perspectiva de chegar a 3 milhões de sacas neste ano, em lugar da média obtida nos últimos períodos, de 2,5 milhões de sacas. “Qualidade é difícil de definir, mas o café brasileiro é reconhecido internacionalmente como fornecedor que consegue produção organizada, devidamente certificada, e faz embarques com absoluto rigor”, afirma.
EXPANSÃO O primeiro contêiner com 320 sacas da nova safra de café despachado no fim de agosto pela Fazenda Planalto, em Nova Resende, vizinha de Guaxupé, confirma a boa expectativa com as exportações deste ano. Administrador da propriedade, Sebastião de Castro Ferreira conta que a produção vem indicando bom rendimento, embora seja esperada uma pequena quebra em razão da seca de janeiro que atrapalhou a floração das plantas. O objetivo é obter 16 mil sacas de café arábica, quase 30% mais frente ao volume produzido em 2016. O desempenho da lavoura reflete a extensão do plantio com a renovação de áreas e uma produtividade que vem aumentando e já alcança 35 a 40 sacas por hectare.
“Temos trabalhado muito pela qualidade do café, uma produção refinada. Tudo indica que 2017 será um bom ano, apesar de o preço (R$ 435 por saca, em média, no mercado interno) não estar ajudando”, diz Sebastião Ferreira. Há estimativas de que a remuneração ao produtor caiu ao redor de 20% neste ano. A colheita mecanizada na fazenda começou em julho e deve se estender até dia 15. Avaliadas em R$ 850 mil, as máquinas operam por oito a nove horas, substituindo o trabalho de 200 homens. O próximo contêiner dirigido ao mercado internacional deverá sair da propriedade ainda em setembro. As vendas externas têm representado 40% da produção e abastecem principalmente clientes no Canadá e Japão.
(*) A repórter viajou a convite da Nestlé
PARA O MUNDO
Exportações brasileiras de café de janeiro a julho
16,787
milhões de sacas
>> Destino
Estados Unidos 20%
Alemanha 17,45%
Itália 9%
Japão 7,13%
Bélgica 5,99%
Rússia 3,43%
Turquia 3,43%
>> Vendas externas de café de Minas Gerais (Janeiro a julho)
11 milhões
de sacas (43% da produção de 26 milhões de sacas)
Fonte: Cecafé/ Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais
À espera da chuva
Depois da chegada lenta da safra de café em julho, início do período mais ativo das exportações, as vendas de agosto indicam recuperação, segundo o presidente do Cecafé, Nelson Carvalhaes. A instituição deve avaliar os primeiros números do semestre nesta quinta-feira, apostando numa performance bem próxima à do ano passado, com embarques totais ao redor de 32 milhões de sacas. A cultura ainda sofre os efeitos da seca severa enfrentada desde 2014. Para a safra 2018/2019, os cafeicultores trabalham com perspectivas melhores em razão da alta do tradicional ciclo bianual das lavouras.
“O resultado dependerá de chuvas generosas entre outubro e fevereiro, necessárias para as floradas (são três a quatro)”, afirma Carvalhaes. Ele espera também reflexos mais positivos dos tratos culturais nas fazendas. De janeiro a julho último, o Brasil exportou 16,787 milhões de sacas, segundo estatísticas do Cecafé, com receita de US$ 2,891 bilhões. A maior parcela embarcada foi de café arábica, um total de 14,777 milhões de sacas. Como determinada a lei da oferta e da procura, o setor faturou US$ 193,3 milhões a mais (7,16%) no exterior, enquanto a oferta diminuiu 7,16%, ante 18,225 milhões de sacas exportadas em igual período de 2016.
A Cooxupé embarcou 2,117 milhões de sacas de janeiro a julho, tendo liderado o ranking de exportadores individuais, seguida do grupo indiano Olam, que comercializou no exterior 1,320 milhão de sacas. Segundo Osvaldo Bachiao, conselheiro da cooperativa de Guaxupé, os produtores da região deverão despachar 6 milhões de sacas, ao todo, neste ano.
GIGANTES Na geografia da distribuição das exportações, os Estados Unidos responderam pelas compras de 20,01% do café exportado pelo Brasil neste ano. A Alemanha ficou em segundo lugar, com 17,45%, e a Itália, na terceira posição, importou 9%. A demanda pelos cafés diferenciados é determinada também por grandes empresas que atuam no Brasil, como a multinacional Nestlé. Desde que a companhia inaugurou, em dezembro de 2015, sua fábrica em Montes Claros, primeira unidade fora da Europa com tecnologia para fabricar cápsulas da marca Nescafé Dolce Gusto, a empresa começou a usar mais o café brasileiro.
O gerente de Agricultura da Nestlé Brasil, Pedro Malta, estima que cerca de 60% da demanda das fábricas dentro e fora do Brasil é abastecida pelo café nacional. Mais da metade desse volume é de café arábica produzido em Minas Gerais. A participação do produto mineiro tende a aumentar na proporção em que a companhia for bem-sucedida em seu novo lançamento, o café torrado e moído na hora do preparo, que consumiu investimentos de R$ 10 milhões.
O produto atenderá ao mercado do chamado food service, especialmente cafeterias e o segmento de transporte, em particular os aeroportos, com máquinas de fabricação italiana que preparam cafés espresso, capuccino e bebidas cremosas a partir da moagem instantânea de grãos. De acordo com o diretor da Nestlé Professional, Marcelo Citrângulo, todo o café usado será do tipo arábica proveniente das regiões montanhosas de Minas.