Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé LTDA Fone: (35) 3696-1200

Notícias

Notícias Cooxupé

Desafios do mercado de microlotes

Revista Negócio Café – Eduardo Cesar

Os microlotes são as estrelas do mercado de cafés especiais. Eles são formados por cafés de alta qualidade produzidos em pequeno volume. Geralmente, são obtidos a partir de um único talhão da propriedade e passam por um meticuloso processo de colheita e pós-colheita, de modo que o resultado na xícara seja uma bebida diferenciada.

Ao contrário dos blends, que são uma mistura entre vários cafés diferentes para manter um perfil constante ao longo do tempo, os microlotes são únicos. Um mesmo talhão não produzirá cafés idênticos a cada ano.

Negócio Café conversou com dois profissionais do mercado de cafés especiais para desvendar quais são os desafios de se trabalhar com os microlotes: Juliana Ganan, fundadora da Tocaya Torradores de Café, uma microtorrefadora localizada em Itajubá-MG; e Sérgio Miranda, fundador do clube de assinaturas Coffee & Joy, com sede em Belo Horizonte.

1 — Por que você optou por trabalhar apenas com microlotes?

Juliana

Como trabalhamos com cafés de qualidade, não vemos a necessidade de “blendá-los”, mas exatamente o contrário: mostrar como cada um deles se destaca em sua singularidade, seus atributos que, muitas vezes, expressam o que vem por trás do grão, como processamento, terroir e variedade.

Sérgio

A opção da Coffee and Joy por trabalhar apenas com microlotes é para mostrar ao consumidor brasileiro que o país produz cafés de excelente qualidade. Além disso, queremos mostrar a cara do produtor que trabalha de baixo do sol o ano inteiro para produzir esses cafés diferenciados.

Créditos: Pete Willis/Unsplash

2 — Quais são os desafios de trabalhar com microlotes?

Juliana

Acima de tudo a sazonalidade. Estamos sempre de olho e trabalhamos em parceria com alguns produtores para garantir que tenhamos cafés de origem única, sendo ofertados durante todo o ano sem comprometer a qualidade e o frescor.

Sérgio

O grande desafio é o custo. Começando pela lavoura, tem o custo para o cafeicultor produzir o microlote. Depois, colocar esse microlote no mercado por um preço acessível ao consumidor, é um desafio. É preciso incentivar o cafeicultor a investir na qualidade, mas também é necessário que exista demanda por esse café.

3 — Além da pontuação SCA, o que você leva em consideração na hora de selecionar os microlotes que serão torrados?

Juliana

O perfil de consumo dos nossos clientes, qual método poderá ser usado com esse café (espresso, filtrado etc), práticas sustentáveis do produtor na fazenda, relacionamento do produtor com seus funcionários e perfil sensorial (às vezes estamos buscando alguma nota sensorial específica).

Sérgio

Nós temos uma filosofia de que não é apenas o critério técnico (pontuação SCA) que define um café especial. Olhamos a sustentabilidade de toda a cadeia: como os funcionários são tratados, se as crianças estão na escola, se existe preservação de matas e nascentes na propriedade… Se tudo isso é feito, aí temos um café verdadeiramente especial.

Por isso não colocamos a pontuação do café na embalagem. Temos os laudos de pontuação de todos os cafés, mas omitimos a informação para não influenciar a decisão do comprador. Por exemplo, podemos oferecer um microlote de 3 sacas de um pequeno produtor familiar com pontuação 84, mas o consumidor pode preferir outro de 87 pontos baseado unicamente nesse critério. Com isso, ele deixa de conhecer um café que, sensorialmente, poderia ter um perfil até mais agradável ao seu gosto pessoal.

Créditos: Gregory Hayes/Unplash

4 — Qual é a importância da embalagem de um café único?

Juliana

A embalagem de um café especial pode — e deve — exprimir a origem do café e dar a ideia para o consumidor de que ele está prestes a consumir um produto verdadeiramente especial. Quanto mais informações sobre a origem do café, melhor. Um bom envase também é necessário para preservar as características do grão.

Sérgio

A nossa preocupação é mostrar quem é o responsável pelo café que está na embalagem. Por isso, colocamos o nome do produtor, o nome da propriedade, a altitude … Além disso, o material das embalagens também é próprio para preservar a qualidade do café. Elas são feitas de papel kraft com revestimento de alumínio por dentro.

5 — Os consumidores “sentem falta” de um microlote depois que ele acaba? Como a empresa pode lidar com isso?

Juliana

Muitos consumidores ficam tristes quando acaba um lote, mas explicamos que aí está a beleza da sazonalidade. Depois daquele lote, virão outros, da mesma propriedade ou não, que irão surpreender novamente. A riqueza do mundo dos cafés especiais reside na descoberta de novos cafés, novos perfis de sabor e novas origens.

Sérgio

No café, cada safra é diferente da anterior. O produtor pode até conseguir manter um perfil, mas o sabor nunca será o mesmo.

No nosso clube de assinaturas, nós garantimos que o consumidor terá acesso aos microlotes selecionados durante um ano. Quando entra uma safra nova, trocamos o menu de cafés. Alguns perfis até podem ser mantidos, mas os cafés nunca serão iguais.

Isso é um desafio. Às vezes, algumas pessoas ficam frustradas porque o café preferido delas acabou, mas o lado positivo é a possibilidade de provar novos cafés que podem agradar tanto, ou mais, que aquele do ano anterior.

***

Fonte: Peabirus

Matéria publicada originalmente na revista Negócio Café nº03.