Os estoques mundiais menores, a demanda crescente pelo café e a melhor qualidade do grão na safra 2020 estão promovendo os preços do produto no mercado. De acordo com a Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Varginha Ltda (Minasul), devido a todos esses fatores a tendência é de que os cafeicultores tenham ganhos melhores na atual temporada, o que é importante para garantir os investimentos na próxima safra.

Segundo o presidente da Minasul, José Marcos Rafael Magalhães, os cafeicultores estão otimistas com a safra atual, que vem apresentando boa produtividade e qualidade melhor em função do clima mais favorável. “Ao contrário da safra passada, este ano, tivemos uma florada bastante concentrada e uma maturação uniforme, o que é importante para a qualidade do café”, explica.

Magalhães afirma que o setor espera uma rentabilidade mais adequada na safra atual. Segundo ele, os estoques mundiais em níveis mais baixos dos últimos 15 anos e a previsão de uma safra menor de café em 2021 (devido à bienalidade negativa) já contribuem para o aumento da cotação por despertar o interesse das empresas em recompor os estoques. Além disso, a estimativa é de uma qualidade boa do café, o que valoriza os preços.

“Também é importante ressaltar que, mesmo com a pandemia do novo coronavírus e o fechamento das cafeterias, o consumo de café está crescendo. Houve uma mudança no consumo, que deixou as cafeteiras e se concentrou no lar devido às restrições do isolamento. No País, o consumo do produto aumentou 35% em março, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). No mundo, também foi verificado crescimento acima de 20% nos Estados Unidos e em países da Europa”, destaca.

Venda antecipada – Ainda de acordo com Magalhães, muitos produtores, desde o início do ano, estão aproveitando os preços mais elevados para vender o café de forma antecipada, garantindo recursos para pagar os custos com a safra e obter rentabilidade.

A trava de preços vem sendo cada vez mais utilizada. Quando assumiu a Minasul, Magalhães explica que apenas 2% dos associados utilizavam a venda antecipada para garantir um melhor resultado. Hoje, cerca de 40% dos associados já utilizam a prática.

A indicação é que o cafeicultor venda cerca de 30% da safra, o que garante a operação da temporada.

“O ano de 2019 foi crítico para os cafeicultores, que tiveram baixa produtividade, baixa qualidade e preços baixos no mercado. O preço médio da saca de café, em 2019, ficou em torno de R$ 400 e, este ano, conseguimos travar os preços em cerca de R$ 600.

Hoje, os valores estão maiores, em torno de R$ 600 a R$ 630, conforme variação do dólar. Essa valorização é fundamental e ajuda o cafeicultor a recuperar parte das perdas, após dois anos de preços baixos e custos elevados. Com o avanço da colheita, teremos uma pressão baixista, mas nossa expectativa é de que não ocorra grande queda, já que os estoques mundiais estão baixos e ano que vem a oferta de café será menor”, avalia.

A maior capitalização do cafeicultor será importante para os investimentos na próxima safra. Se, por um lado, o real desvalorizado frente ao dólar é positivo para a exportação do café, por outro, os custos de produção ficarão mais caros.

“A tendência é que a compra dos insumos para os cuidados com os cafezais fique mais cara. Isso porque vários produtos utilizados são importados, como os fertilizantes e defensivos, por exemplo”, diz Magalhães.

Em 2019, a Minasul recebeu 1,7 milhão de sacas de 60 quilos de café e, para este ano, a previsão é receber 2 milhões de sacas de 60 quilos, 17,64% a mais. A meta inicial era exportar cerca de 400 mil sacas, mas o volume já foi superado e está em 600 mil sacas de café. Até abril, a cooperativa já tinha embarcado 60% do volume inicialmente planejado.

Produtor – O cafeicultor do município de Luminárias, no Sul de Minas, Fabiano Hudson também espera melhores resultados na safra 2020 de café. A previsão é colher em torno de 3 mil sacas, volume que será 30% maior que o registrado na safra anterior.

“Além de uma produção maior, estamos esperando uma qualidade do café bem melhor que a do ano passado, o que é importante para agregar valor. Com o aumento da qualidade também pretendo participar de concursos, o que gera melhores resultados”, afirma.

Hudson comercializou cerca de 15% da safra de forma antecipada, conseguindo fixar os valores em torno de R$ 550. “Consegui um preço melhor que o do ano passado, mas poderia ser ainda melhor porque os preços do café têm apresentado picos mais elevados”, diz.

A colheita da safra de café na propriedade de Hudson deve ser iniciada em meados de junho. Cerca de 90% da área é mecanizada e os 10% restantes são colhidos de forma manual.

Fonte: Diário do Comércio